O brincar.
Parece simples, mas tem muito que se lhe diga. Se para nós adultos o brincar de uma criança é observá-la a materializar a imaginação através da manipulação de objetos em passo desenfreado de “faz-de-conta”, para a criança o brincar representa muito mais. É, aliás, extremamente valioso, porque é através da brincadeira que esta comunica e se desenvolve. Alguma vez se questionou porque é que com um simples pau a criança faz uma espada ou varinha de condão e é subitamente cavaleiro medieval ou poderosa feiticeira? Embora possam apreciar brinquedos complexos e as personagens das suas histórias favoritas, na falta de algo mais elaborado a mente da criança contrapõe, com toda a mestria e sem esforço, essa lacuna tornando as coisas simples em coisas mágicas – e úteis!
É na brincadeira que a criança treina expressões, gestos e sons que mais tarde se observam nas suas competências sociais e de linguagem. O brincar desenvolve a imaginação, os afetos, consolida aprendizagens, trabalha a motricidade fina e a coordenação psicomotora e estabiliza e desenvolve redes neuronais essenciais ao seu desenvolvimento. Para além disso, é na brincadeira que os mais pequenos treinam a tomada de decisão, interiorizam regras, estabelecem rotinas, experimentam, conhecem e aprendem a distinguir o “bem” do “mal” – conceitos abstratos que se vão tornando palpáveis e maleáveis com o passar do tempo.
Como se tudo isto não fosse o suficiente, brincar também leva as crianças a desafiar medos e a personificar constructos como a coragem e a proteção. É durante a brincadeira que as crianças começam a regular-se emocionalmente: quem nunca viu uma criança frustrada a tentar encaixar uma peça de um puzzle onde ela não cabe, não imagina o esforço que esta faz para tentar lidar com a raiva, a perplexidade e a impotência – tudo ao mesmo tempo!
Para uma criança, brincar é coisa séria: não deve ser levado de forma leviana, como se fosse algo absolutamente dispensável. É importante deixá-las explorar a criatividade de forma autónoma, mas, de vez em quando, junte-se à brincadeira! É que para além do que já foi enumerado, brincar também fortalece as nossas vinculações com as crianças: elas convidam-nos a entrar num espaço que lhes pertence e nós adultos precisamos de honrar esse convite, levando os nossos ensinamentos e ideias – que por si só, ajudam a estimular (duplamente!) as mentes curiosas dos mais pequenos.
Para que a brincadeira nunca se esgote, em seguida proponho-lhe algumas atividades divertidas e criativas, independentes das idades e com materiais que encontrará facilmente em sua casa. Ajudarão certamente a passar melhor tempos de confinamento:
- Cinema no esconderijo - Construa uma tenda em frente à TV usando cadeiras, as almofadas do sofá e mantas ou lençóis. Passe um filme divertido, agarre as pipocas e entre no forte com os mais pequenos! Eles vão adorar e é uma forma de aproveitar um domingo chuvoso sem sair de casa.
- Fantoches - Tem meias velhas ou desirmanadas em casa e está prestes a colocá-las no lixo? Pense duas vezes: com um par de olhos recortados em papel ou cartolina, dão uns fantoches muito giros e fáceis de fazer. Porque não montar um espetáculo para toda a família?
- Puzzle - Se tiver uma veia criativa, pode fazer com os seus pequenos um puzzle personalizado: com um desenho bonito colado num cartão, corte pedaços e baralhe-os: agora é a vez de todos tentarem reconstruir o desenho original!
- Bolachas – A receita não tem de ser elaborada, nem tão pouco dispendiosa ou gulosa. Da próxima vez que for para a cozinha, leve companhia! Desde cedo os mais pequenos podem dar uma mãozinha a mexer ou a polvilhar com açúcar as bolachas preferidas da família. No fim, chega a parte favorita de todos: provar!
- Sessão fotográfica – Aqui a criatividade é a sua melhor amiga para vestimentas inesquecíveis: para as crianças, até um simples cortinado da cozinha se transforma numa capa de super-herói! Junte os figurinos e os adereços e façam uma sessão fotográfica divertida e imaginativa! O melhor? Terá sempre uma recordação desta brincadeira para mais tarde rever e, porque não, colocar num álbum de fotos (que também poderão fazer em conjunto).
- Exercício - Independentemente da faixa etária, exercitar o corpo é benéfico para a saúde mental e física. Pode escolher uma playlist musical com a ajuda dos pequenos e fazer uma sessão de ginástica na sala.
Que nunca lhe(s) falte a brincadeira, sejam crianças de 2, 9 ou 99 anos!
Sara Morgado
Comentários
Enviar um comentário