Já ouviu falar em Psicologia do Ambiente
ou em Psicologia da Arquitetura?
Já pensou que o ambiente físico em que
está inserido num determinado momento pode influenciar as suas emoções?
A Psicologia Ambiental e da Arquitetura
surgiu poucos anos após a 2ª Guerra Mundial, no seguimento da necessidade de se
reconstruírem as cidades europeias devastadas pelos bombardeamentos. O objetivo
principal desta subárea da Psicologia, em articulação com outras áreas do
conhecimento, é perceber os fatores inerentes à relação ‘indivíduo-ambiente
circundante’ e potenciá-los, com vista a melhorar o bem-estar dos indivíduos,
nomeadamente as suas experiências emocionais.
Embora com interesse escasso, principalmente
em Portugal*, a investigação tem-nos mostrado dados claramente importantes a
ter em conta no nosso quotidiano, nas mais diversas dimensões: social, laboral,
familiar, escolar, entre muitas outras.
De uma forma sucinta e exemplificativa,
verifique o papel de algumas cores no estado emocional dos indivíduos.
Cores e emoções
Azul: a
utilização da cor azul no ambiente circundante está relacionada com diminuição
da pressão sanguínea, conduzindo a serenidade e tranquilidade. Um exemplo do
uso da cor azul, habitualmente azul claro, são os hospitais. Talvez agora
consiga perceber a razão dessa escolha de design interior.
Verde: a utilização desta cor, associada à natureza, ajuda na regulação do stress e é frequentemente utilizada em espaços dedicados à leitura e relaxamento. Algumas Unidades de Cuidados Continuados e também alguns hospitais utilizam esta cor no seu interior.
Vermelho e laranja: cores reativas e estimulantes. Indivíduos expostos de uma forma mais ou menos continuada a estas cores podem experienciar um aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco, assim como do metabolismo. Alguns restaurantes de marcas mundialmente conhecidas utilizam estas cores no seu interior, associadas ao aumento de apetite.
Amarelo: cor também associada a aumento de metabolismo, por um lado, e ao aumento de frustração, por outro. Em espaços com esta cor, os bebés tendem a chorar mais e os adultos tendem a ficar mais facilmente irritados.
Branco: sendo uma cor neutra, continua a ser uma das
mais utilizadas em zonas interiores, dando “espaço total” para a experimentação
natural das emoções dos indivíduos, sejam elas mais positivas ou negativas.
Embora amplamente estudados, os efeitos
das cores aqui apresentados dependem também de outros fatores, tais como
socioculturais e individuais. Também é crucial sublinhar que os efeitos
observados na investigação são decorridos de uma exposição mais ou menos continuada
às cores, em ambientes habitualmente fechados e totalmente preenchidos pelas
referidas cores.
Para terminar este artigo, e talvez para o
leitor perceber de uma forma pessoal a influência do ambiente circundante no
seu estado emocional, recorde-se dos recentes momentos de confinamento
decretados pelo governo. Certamente que experimentou várias emoções, mas uma
delas foi a frustração ou por outras palavras “farto/aborrecido” de estar em
casa.
Embora muitos outros fatores contribuam
para esta experiência emocional, o ambiente circundante pode também representar
um fator explicativo adicional. Repare que passou o confinamento num dos sítios
eventualmente mais significativos para si, a sua casa; contudo, no quotidiano
(sem confinamento) estamos inseridos em diversos contextos, de forma alternada,
o que nos leva a experiências emocionais mais diversificadas; já no
confinamento, o ambiente permaneceu o mesmo ao longo de muito tempo
(habituação), o que pode, entre muitos outros fatores (e.g., teletrabalho,
quebra de rotinas,…), contribuir para as emoções (naturais) que experienciou.
Num próximo artigo sobre esta temática,
abordarei outros aspetos psicológicos influenciados pelo ambiente físico
circundante, nomeadamente a atenção e memória.
*em Portugal, Pedro Rodrigues
(Universidade Portucalense Infante D. Henrique) e Josefa Pandeirada
(Universidade de Aveiro) têm-se dedicado ao estudo da influência ambiental na
atenção e na memória dos indivíduos.
Pedro F. S. Rodrigues
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