O medo é uma das emoções universais e surge perante a ameaça de dano, seja físico, emocional ou psicológico, real ou imaginário. Embora tradicionalmente seja considerado uma emoção “negativa”, o medo desempenha, na verdade, um papel importante na nossa segurança, preparando-nos para lidar com o perigo potencial.
Existem vários níveis de medo, sendo eles distinguidos em termos de intensidade, de tempo, e de estratégias de enfrentamento. Todavia, em todos os níveis de medo, devemos concentrar-nos em perceber quais as ações, se as houver, que podem ser tomadas para reduzir ou eliminar a ameaça. Quando somos capazes de lidar com a ameaça, isso diminui ou elimina a experiência de medo. Alternativamente, quando nos sentimos impotentes para lidar com a ameaça, isso intensifica o medo.
Apesar de existirem vários gatilhos de medo (e.g., escuridão, alturas, rejeição, animais perigosos, morte), irei focar-me, para o propósito deste artigo, no medo da guerra, atendendo à realidade que estamos a viver entre a Rússia e a Ucrânia, e as repercussões que já se começam a sentir mundialmente.
De acordo alguns autores, a emoção do medo desempenha um papel crucial na escalada de conflitos. O medo de perder o poder e o controlo sobre uma situação pode desencadear ações violentas que, por sua vez, podem levar a guerras locais ou mundiais. O medo também pode servir como meio de mobilização, induzindo indivíduos a participar de guerras ou lutar com inimigos que constituem ameaças potenciais ou imaginárias a uma nação, grupo ou comunidade. De todos os envolvidos numa guerra, o medo torna-se viral e o contágio emocional dá-se à escala global, através da comunicação social e das redes sociais virtuais, onde a informação está na ponta dos dedos e “em direto”.
A guerra está associada a um conjunto de consequências negativas e que, historicamente, sabe-se ter um impacto direto na qualidade de vida das pessoas e na própria saúde, física e mental. A perda de bens imóveis, de bens materiais, a morte de pessoas próximas, o destacamento obrigatório de familiares para combate, a migração forçada, a ausência de condições básicas de vida, a mobilidade de militares de outros países que têm que deixar as suas famílias para tomarem uma posição política, entre outras, fazem com que os níveis de preocupação e ansiedade aumentem e deem lugar, muitas vezes, ao pânico e ao horror.
O medo é uma arma poderosíssima para quem inicia uma guerra, pois condiciona as ações de todos os envolvidos, direta ou indiretamente. Ninguém consegue ficar indiferente aos efeitos que uma guerra produz, ainda que estejamos numa era em que as mentalidades supostamente evoluíram. Se se sente assoberbado(a) por emoções de medo, preocupação e ansiedade, não se sinta sozinho(a) e siga as seguintes recomendações:
- Estipule uma hora no seu dia para se atualizar das principais notícias. Desligue todas as notificações para não ser sobrecarregado com informações ao minuto, pois isso fará disparar os seus níveis de stresse, mesmo que não tenha uma perceção clara desses efeitos.
- Procure informação em fontes fidedignas e não acredite em tudo o que lê ou o que ouve. Recorde-se que a comunicação social, não raras vezes, diz coisas que não são reais (exemplo das imagens de guerra que eram, afinal, de videojogos). Filtre o que consome a nível de informação.
- Sinta-se útil. A impotência que sentimos em circunstâncias que nos transcendem pode ser diminuída se fizermos algo para ajudar alguém. Pode participar em campanhas de ajuda para a Ucrânia ou simplesmente ajudar alguém em necessidade (basta olharmos para o lado e percebemos facilmente que há vítimas da desigualdade social ao virar da esquina). Espalhe amor ao próximo.
- Partilhe a informação necessária aos seus filhos e tente estimular o diálogo e a expressão livre das emoções. Ignorá-las só fará com que a tensão interior aumente.
- Tenha rituais de autocuidado e incentive os seus familiares a tê-los também. Quando dedicamos tempo a nós e ao nosso bem-estar, conseguimos estar mais equilibrados e a estarmos mais focados nas soluções e não nos problemas.
- Procure ajuda especializada. A mobilização de profissionais da saúde mental está a ser imensa para dar resposta à procura que se tem sentido. Lembre-se que o acompanhamento personalizado e o simples facto de ter um espaço seguro de partilha, isento de julgamento e de condicionalismos, ajuda a colocar as coisas em perspetiva e a adquirir ferramentas para o seu dia a dia.
Apesar do caos que vivemos, entre pandemia e guerra, temos a obrigação de tornarmos o mundo um espaço melhor, começando por estarmos bem connosco próprios.
Dra. Laura Alho
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