A tecnologia está presente na maior parte do nosso dia-a-dia e o primeiro contacto com ela tem acontecido cada vez mais cedo, na fase da infância, sendo que não é raro que as crianças comecem a interagir com os ecrãs antes de darem os seus primeiros passos, sejam eles no telemóvel, tablet e/ou televisão. Este acontecimento, entre outras causas, deve-se à influência da relação dos pais com as tecnologias.
Sabe-se que é na infância que acontece o rápido crescimento das células cerebrais, sendo que, desde o nascimento até aos dois anos de idade, o cérebro da criança triplica de tamanho e continua em crescimento e amadurecimento até aos 21 anos. Este desenvolvimento cerebral é influenciado por estímulos ambientais, ou pela falta deles.
A tecnologia pode ser considerada uma oportunidade de aprendizagem para as nossas crianças, mas é fundamental ter alguns cuidados, já que a exposição exagerada aos ecrãs, pode levar ao aumento de problemas de atenção e concentração, a dificuldades no desenvolvimento da linguagem, dificuldades no aproveitamento escolar, aumento da impulsividade e menor capacidade de autocontrolo, e ao aumento do risco de problemas de sono.
Para que a tecnologia traga benefícios e não prejuízos ao processo de desenvolvimento e aprendizagem integral da criança, precisamos de ter atenção a estas três condicionantes: o tempo de utilização, a qualidade do conteúdo e a integração de outras atividades lúdicas.
Quanto ao tempo de utilização das tecnologias, a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Associação Americana de Pediatria (AAP), a Associação Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente (AAPCA) e a Sociedade de Pediatria Canadiana (SPC), deixam algumas recomendações(Tabela 1.):
Tabela 1. Recomendações do tempo de ecrã por semana, tendo em conta a idade.
Idade | Recomendação de tempo de ecrã/ semana |
Dos 0 anos até aos 2 anos de idade* | 0 horas/semana |
Dos 2 anos até aos 5 anos de idade ** | Menos de 1 hora/semana |
Dos 2 anos até aos 18 anos de idade*** | Menos de 2 horas/semana |
*>18 meses: limitar o acesso a videochamadas (com familiares) e dos 18 meses aos 24 meses limitar a programas educativos na presença do cuidador para que exista interpretação do conteúdo.
**Dos 2 anos até aos 5 anos de idade, o cuidador está presente na escolha de conteúdo de qualidade e promove a compreensão do mesmo.
***>6 anos: limitar o tempo de ecrã e conteúdos de forma a que estes não tenham impacto por exemplo no sono e na atividade física da criança.
Para um desenvolvimento saudável da criança, é importante promover atividades lúdicas em família e diariamente ter tempo livre da tecnologia (e.g., nas horas das refeições e antes de deitar); organizar passeios e atividades ao ar livre, que permitam a criança apreciar e observar a natureza e o meio ambiente; contar histórias, promover diálogo e falar dos acontecimentos do dia-a-dia da criança. Para além disso, também é importante promover a interação social na infância, uma vez que influencia a aprendizagem ativa, aquisição de competências de interação social e emocional, desenvolvimento da capacidade de resiliência, construção de valores e princípios de colaboração, generosidade e solidariedade.
Para que isso aconteça, é importante que os pais não se esqueçam de estabelecer regras e determinar o tempo de utilização das tecnologias. E para que possa existir um equilíbrio, todos os membros da família devem determinar horários para o contacto com os ecrãs e proporcionar outro tipo de atividades (ausentes da tecnologia) em família.
Se tiver dificuldades em estabelecer essas regras ou sentir que precisa de orientações para defini-las e implementá-las, não hesite em procurar ajuda. Sabemos o quão desafiante pode ser educar as crianças, quando isso também implica alterar os nossos próprios hábitos.
Dra. Joana Dias
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