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Birras: De onde vêm e como preveni-las


Lidar com emoções intensas das crianças pode ser um desafio, nomeadamente quando estas se manifestam em birras. Se o leitor já presenciou uma situação de birra por parte de uma criança, sabe do que estou a falar.  

O que são birras e de onde vêm?

As birras são comportamentos comuns na infância, marcadas por reações emocionais negativas e desproporcionais ao momento, que a criança utiliza para manifestar e lidar com sentimentos mais complexos, como é exemplo a raiva, a angústia ou a frustração. Estas ocorrem principalmente na faixa etária dos 1 aos 4 anos de idade, não obstante poderem manifestar-se noutras fases do desenvolvimento.
As birras são consideradas uma resposta emocional normativa do desenvolvimento emocional e cognitivo da criança, sendo que as causas de uma birra podem advir de vários fatores internos e/ou externos e, assim, variar de criança para criança. No entanto, entre alguns fatores estão: as competências sociais e emocionais pouco desenvolvidas, o que pode levar a criança a não conseguir expressar as suas emoções de forma adequada; a privação de sono, fadiga ou fome, levando a criança a ficar menos tolerante; as competências linguísticas limitadas, o que dificulta a expressão das suas necessidades, desejos e frustrações; e a necessidade de atenção, que deve entender com empatia e não com frustração.

 
Como prevenir e lidar com as birras?

Prevenir ou lidar com as birras passa por compreender as necessidades e as competências das crianças nas diferentes idades, para que possa criar um ambiente seguro e de apoio adequado ao desenvolvimento das mesmas. A comunicação verbal e não verbal, a escuta ativa e o estabelecer de limites claros são fundamentais.  A título de exemplo, pode:
·      Ajudar a criança a identificar ou a nomear a emoção que ela está a sentir (por exemplo: “o que estás a sentir?” “Estas a sentir-te triste ou zangado?”);
·      Ajudar a criança a regular as suas emoções usando por exemplo respirações profundas  (“cheira uma flor e sopra para apagar uma vela”);
·      Ensinar à criança formas e palavras para expressar o que ela está a sentir, para isso, pode mostrar imagens ou histórias que ilustrem as diferentes emoções; 
·      Interpretar a informação emocional da postura corporal, gestos ou expressões faciais da criança (por exemplo: punhos fechados, rosto vermelho, testa franzida); 
·      Escutar ativamente para compreender o que a criança está a querer transmitir e acolher as emoções dela de forma empática (por exemplo: “Eu entendo que estás a sentir-te chateada neste momento.  É normal, que te sintas assim porque gostarias de estar no telemóvel em vez de arrumar o teu quarto”); 
·      Definir regras e comunicá-las de forma clara (por exemplo: “Podes ficar no telemóvel durante 30 minutos depois de arrumares o teu quarto, como combinado”).
 
Para além disso, é importante que, quando surge uma birra, mantenha a calma e controle as suas próprias emoções, pois responder com frustração vai piorar a situação. Mantenha a consistência das regras que colocou e procure dar atenção de forma positiva; reconheça e valide o que a criança está a sentir (por exemplo: “sei que estás a sentir-te com raiva porque não podes estar no telemóvel, mas agora deves fazer...”), elogie a criança e recompense o bom comportamento dela, isso vai incentivá-la a repeti-lo (por exemplo: “Vejo que já arrumaste o teu quarto. Muito bem!  Quando as coisas estão organizadas, eu sinto-me mais relaxada. E tu, como te sentes?”); dê opções limitadas à criança de forma a que esta se sinta independente dentro dos limites colocados (por exemplo: “queres vestir a camisola branca ou a vermelha?”); estabeleça rotinas saudáveis, estas dão maior segurança à criança (por exemplo: respeite os horários das refeições e da rotina de sono, a criança deve deitar-se e acordar à mesma hora).
Quando a birra se manifesta em locais públicos, pode deixá-lo/a mais desconfortável, mas é importante que evite reações negativas (como aumentar o tom de voz ou ceder à vontade da criança para evitar a vergonha que sente perante a situação). Além das estratégias anteriormente referidas, dê apoio e seja empático(a). Evite preocupar-se com o julgamento dos outros. 
À medida que a criança cresce, ela desenvolve competências emocionais e cognitivas, tornando-se mais capaz de reconhecer, compreender e controlar as suas emoções. Consequentemente as birras vão diminuir na frequência e na intensidade. No entanto, tenha em mente que mesmo com o amadurecimento emocional, as birras continuam a existir, embora se possam manifestar de formas diferentes (por exemplo: não é medida por observação externa como o berrar ou o espernear, mas com comportamentos que revelam amuo, como o deixar de falar temporariamente). Para a criança lidar de forma segura com as birras esta deve desenvolver estratégias para identificar as emoções e para lidar com elas de forma saudável.
Estar verdadeiramente presente na relação com a criança pode ser um grande desafio, mas é essencial para uma relação mais saudável e feliz. No caso de as birras serem persistentes ou terem um impacto negativo a nível familiar, não hesite em procurar ajuda de um psicólogo.
 
Dra. Joana Dias

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