Avançar para o conteúdo principal

Estilos Parentais: Entre Limites e Liberdade

Na parentalidade, encontrar o equilíbrio entre impor limites e permitir autonomia é uma competência desejada por muitos pais. Num mundo em constante evolução, onde os valores sociais se alteram rapidamente, a tarefa complexa de educar uma criança desafia-nos a questionar: qual é a forma correta de educar as novas gerações?

A procura por respostas leva a várias opiniões, teorias e abordagens. As famílias atualmente deparam-se com alguns estilos parentais, sendo que cada um tem as suas vantagens, desafios e consequências no desenvolvimento infantil. O universo dos estilos parentais exige, antes de tudo, o reconhecimento da necessidade de adaptação às mudanças sociais e às características individuais de cada criança.

Antes de mergulharmos mais fundo, é essencial definir o que são estilos parentais. Estes referem-se às abordagens consistentes que os pais adotam na criação dos seus filhos, refletindo padrões de comportamento, atitudes e práticas moldadas por valores culturais, crenças pessoais e experiências familiares. Os estilos parentais influenciam o desenvolvimento psicossocial da criança, podendo resultar não apenas em comportamentos imediatos, mas também no desenvolvimento psicológico a longo prazo.

Quatro dos estilos parentais existentes, que mais surgem na literatura, são:

1. Estilo Parental Autoritário:

Caracterizado por regras rígidas e expectativas elevadas, este estilo pode gerar crianças obedientes, mas com impactos negativos em várias áreas das suas vidas. Por exemplo, as crianças podem desenvolver a longo prazo, dificuldades em expressarem as suas opiniões por medo de serem castigadas e/ou rejeitadas ou em expressarem as suas emoções. 

 

2. Estilo Parental Permissivo:

Num extremo oposto, o estilo parental permissivo oferece liberdade, estabelecendo poucos limites e regras flexíveis. A médio e longo prazo, este estilo parental pode ter várias implicações no desenvolvimento do autocontrolo das crianças e dificuldades em estabelecer limites, principalmente, nas relações interpessoais .

3. Estilo Parental Democrático (ou Autoritativo):

No equilíbrio entre limites claros e comunicação aberta, o estilo parental democrático promove um desenvolvimento mais equilibrado, visto que é reconhecido como sendo o mais benéfico. As crianças educadas com base neste estilo parental têm maior probabilidade de desenvolver competências sociais saudáveis, de aprenderem a gerir as suas emoções e de desenvolverem uma autoestima saudável e promotora de bem-estar, entre outras.

4. Estilo Parental Negligente:

Este estilo parental é caracterizado pela falta de envolvimento e atenção dos pais nas necessidades e atividades das crianças. Os pais mostram desinteresse em estabelecer limites ou oferecer suporte emocional, podendo levar a dificuldades emocionais e comportamentais nas crianças, uma vez que não recebem a orientação e a presença necessária para o seu desenvolvimento saudável.

Vou dar-lhe um exemplo prático para ilustrar como cada estilo pode manifestar-se. Imagine que uma criança pede para ficar acordada até tarde: 

·      Os pais com um estilo parental autoritário dizem “não” sem espaço para discussão; 

·      Os pais com um estilo parental permissivo permitem sem questionar 

·      Os pais com um estilo parental democrático  negoceiam um horário mais adequado; 

·      Os pais com um estilo parental negligente não expressam uma opinião, mostrando desinteresse.

O impacto do estilo parental adotado reflete-se na vida adulta, influenciando escolhas de relacionamentos, saúde mental e bem-estar geral. Nesse sentido, deixo-vos algumas sugestões para a prática de um estilo parental democrático, reconhecido como o mais benéfico para a autonomia e bem-estar da criança a médio e longo prazo.

1.     Comunicação aberta

·      Incentivar a criança a expressar os seus pensamentos e sentimentos; 

·      Ouvir atentamente e sem julgamento.

2.     Envolvimento ativo:

·      Participar na vida da criança;

·      Estar presente em atividades e eventos importantes para ela.

3.     Limites claros:

·      Definir regras e limites consistentes;

·      Explicar a razão por trás das regras;

·      Abertura para negociar quando é apropriado.

4.     Tomada de decisão partilhada:

·      Incluir a criança nas decisões que a afeta;

·      Permitir que expresse a sua opinião e contribua para o processo decisório.

5.     Promover a autonomia:

·      Dar responsabilidades adequadas à idade;

·      Permitir a tomada de decisões e aprender com as suas próprias experiências.

A complexa dança da parentalidade exige que os pais ajustem os seus passos de acordo com a melodia única de cada filho. O desafio é encontrar o ritmo perfeito entre limites e liberdade. Se a parentalidade estiver a ser um desafio para si, procure ajuda de um psicólogo.

 

Dra. Joana Dias

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Birras: De onde vêm e como preveni-las

Lidar com emoções intensas das crianças pode ser um desafio, nomeadamente quando estas se manifestam em birras. Se o leitor já presenciou uma situação de birra por parte de uma criança, sabe do que estou a falar.   O que são birras e de onde vêm? As birras são comportamentos comuns na infância, marcadas por reações emocionais negativas e desproporcionais ao momento, que a criança utiliza para manifestar e lidar com sentimentos mais complexos, como é exemplo a raiva, a angústia ou a frustração. Estas ocorrem principalmente na faixa etária dos 1 aos 4 anos de idade, não obstante poderem manifestar-se noutras fases do desenvolvimento. As birras são consideradas uma resposta emocional normativa do desenvolvimento emocional e cognitivo da criança, sendo que as causas de uma birra podem advir de vários fatores internos e/ou externos e, assim, variar de criança para criança. No entanto, entre alguns fatores estão: as competências sociais e emocionais pouco desenvolvidas, o que pode levar a cr

Stress no contexto laboral: o que fazer

  O término das férias significa, para muitos, o início ou a retoma do trabalho. O contexto laboral acarreta consigo desafios que frequentemente colocam à prova a resiliência do leitor. Porém, apesar de muito stressante, muitas vezes os impactos deste tipo de stress passam despercebidos, o que pode contribuir para o desenvolvimento do stress crónico .  Por exemplo, já alguma vez, ficou com herpes ou obstipado/a durante e ou após concluir um grande projeto? E quanto ao humor? Talvez se tenha sentido constantemente irritado/a ao longo de todo o projeto.   Quando experiencia stress, o corpo liberta hormonas como adrenalina, noradrenalina e cortisol. Estas hormonas, por um lado, atuam no corpo aumentado, por exemplo, os níveis de açúcar no sangue, da frequência cardíaca e contraindo simultaneamente os vasos sanguíneos e os músculos de modo a preparar o corpo para lidar com o perigo. Por outro lado, elas interferem com a resposta de vários outros sistemas, nomeadamente do sistema imune e

Os efeitos da resposta de stress no corpo

  Todos já experienciamos stress e a forma como gerimos o stress varia de pessoa para a pessoa. Apesar da resposta do stress ser um mecanismo de defesa brilhante, a exposição a este tipo de resposta de uma forma contínua ou crónica acarreta consequências negativas para a nossa saúde física e mental. O que é stress? O stress é a resposta fisiológica que é desencadeada pelo organismo quando este perceciona a ameaça ou o perigo. Por exemplo, imagine uma zebra que se encontra na savana a deliciar-se da sua erva fresquinha e que, assim que se apercebe da presença de uma chita, desata a correr, conseguindo-se escapar de forma ilesa. Tudo isto acontece por causa da resposta de stress, também conhecida como resposta de luta ou fuga. A ativação deste tipo de resposta inclui a libertação de hormonas como adrenalina e cortisol. A adrenalina estimula o corpo para uma resposta imediata aumentando a frequência cardíaca, a pressão sanguínea, a respiração, entre outros efeitos. O cortisol, conheci