Avançar para o conteúdo principal

Do Pensamento à Ação: Como os pensamentos influenciam os nossos sentimentos e as nossas decisões

Cabeça de silhueta com cérebro humano. Neurologia, conceito de psicologia |  Vetor Premium


 Já alguma vez se perguntou por que se sente de determinada forma ou por que agiu de certa maneira? Os pensamentos são a base da nossa experiência interna e têm impacto direto nas nossas ações e comportamentos. A forma como pensamos influencia a maneira como percebemos, sentimos e interagimos com o mundo. Os pensamentos são processos mentais que podem ser conscientes ou inconscientes, surgindo de forma espontânea ou em resposta a um estímulo. Estes envolvem, por exemplo, o processamento de informações, imagens e memórias e desempenham um papel crucial na forma como nos sentimos, na nossa tomada de decisão e na resolução de problemas.

Os pensamentos podem ser classificados de várias formas, consoante o impacto que têm nas emoções e nos comportamentos, a saber: 

- Pensamentos automáticos: Surgem de forma rápida, espontânea e sem esforço consciente. Muitas vezes, baseiam-se em crenças (ideias ou convicções aceites como verdadeiras, independentemente se há ou não evidências que as sustentem). Estes pensamentos podem ser tanto positivos como negativos, por exemplo:  “Os erros fazem parte do meu crescimento” ou "Eu nunca faço nada bem".

- Pensamentos adaptativos: Ajudam-nos a lidar eficazmente com situações desafiadoras e a encontrar soluções equilibradas. São realistas, flexíveis e permitem avaliar as nossas ideias e crenças sempre que necessário. Por exemplo: "Estou a sentir-me ansioso(a), mas já lidei com situações semelhantes anteriormente e consegui ultrapassá-las".

- Pensamentos disfuncionais: Distorcem a realidade e conduzem a interpretações negativas ou irrealistas sobre nós próprios, os outros e o mundo. Estes pensamentos são irracionais e frequentemente resultam em emoções e comportamentos disfuncionais, estando muitas vezes na base de perturbações mentais. Por exemplo: "Tudo vai correr mal" ou "Falhei uma vez, logo vou falhar sempre". 

- Pensamentos lógicos/racionais: Envolvem uma análise lógica e objetiva das informações, com base em evidências e uma avaliação das situações. Assim, existe uma redução da influência de emoções intensas e/ou crenças negativas na tomada de decisão. Por exemplo: "Não tenho controlo sobre tudo, mas posso focar-me no que consigo fazer".

Para entender a importância dos pensamentos no nosso dia-a-dia, é essencial reconhecer o ciclo Pensamento-Emoção-Comportamento. Por exemplo, numa apresentação no trabalho, se pensar "Não sou boa(bom) o suficiente", vai sentir mais ansiedade, o que pode prejudicar o seu desempenho. Pelo contrário, se pensar "Estou preparada(o)" pode aumentar a confiança e, consequentemente, melhorar o seu desempenho. Os pensamentos negativos automáticos e disfuncionais podem criar padrões prejudiciais que afetam o bem-estar emocional. Muitas vezes, estes pensamentos estão associados a distorções cognitivas (https://thinkwiseclinic.blogspot.com/2022/11/como-reduzir-os-impactos-negativos-das.html) que aumentam os níveis de stress, ansiedade e/ou insegurança, podendo levar a problemas psicológicos graves, como por exemplo, a depressão.

No entanto, os pensamentos podem ser reestruturados para se tornarem mais adaptativos e racionais. Pensar de forma positiva não significa desconsiderar os desafios, mas sim focar-se nas oportunidades e soluções. Embora não seja possível controlar completamente os pensamentos que surgem na mente, podemos aprender a geri-los de forma equilibrada.

 Algumas estratégias podem ajudar a reestruturar os pensamentos automáticos e disfuncionais e a promover pensamentos adaptativos e racionais, por exemplo: 

- Autoconhecimento: Identificar os pensamentos ao longo do dia e reconhecer como estes nos fazem sentir é essencial. Perguntas como: "O que estou a pensar neste momento?", "Como é que este pensamento me faz sentir?" ou "Este pensamento é útil ou prejudicial?", podem ajudar.

- Questionar pensamentos automáticos e disfuncionais: Questionar a veracidade dos nossos pensamentos, por exemplo: "Há evidências que sustentam este pensamento?" ou "Este pensamento é um facto ou uma hipótese?".

- Substituir pensamentos automáticos negativos e disfuncionais por pensamentos adaptativos e racionais: Por exemplo, em vez de: "Falhei nesta apresentação, sou péssima(o) e nunca vou conseguir fazer nada bem", substituir por: "Esta apresentação não correu como eu queria, mas isso não significa que sou incapaz. Posso refletir sobre o que não correu bem e melhorar na próxima vez". 

-Praticar a gratidão: Uma ferramenta poderosa, uma vez que leva a reconhecer as pequenas coisas boas na vida e a focar no positivo.

- Prática de Mindfulness: Permite manter a atenção no momento presente, observar os pensamentos sem julgamentos, e, assim, reduzir o impacto emocional dos pensamentos automáticos negativos e disfuncionais.

Quando os pensamentos são repetidos várias vezes, moldam as nossas crenças e podem condicionar as nossas escolhas e ações. Pensamentos negativos constantes podem levar-nos a acreditar que somos incapazes, enquanto pensamentos positivos reforçam a autoconfiança e levam-nos à ação.

Embora os fatores externos possam influenciar-nos, o verdadeiro poder está na forma como escolhemos interpretar esses fatores. Aprender a reconhecer, questionar e reestruturar pensamentos negativos pode melhorar o nosso estado emocional e, consequentemente, a qualidade de vida. Se sentir dificuldades em gerir os seus pensamentos, emoções e/ou comportamentos, procurar ajuda de um profissional de psicologia é um passo importante e necessário para promover uma vida mais equilibrada e positiva.


Dra. Joana Dias

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sinais de depressão em crianças e adolescentes: a importância da identificação precoce

  A depressão é uma perturbação de humor que pode afetar a todos, incluindo crianças e adolescentes.  Esta condição pode interferir com desenvolvimento físico e psicológico, com o estabelecimento das relações interpessoais, com o desempenho escolar, e se não for identificada atempadamente pode acarretar sérias repercussões a longo prazo. Quais são as causas da depressão nas crianças e nos adolescentes? A depressão pode ser causada por vários fatores , tais como, biológicos, psicológicos e sociais/ambientais. Os fatores mais comuns que podem contribuir para o desenvolvimento de depressão nas crianças e nos adolescentes são: Problemas familiares (ex., conflitos, divórcio); Baixo rendimento ou insucesso escolar; Situações de violência emocional, sexual e física; Bullying ou conflitos com os colegas; Histórico familiar de depressão ou outras condições mentais (ex., perturbação de ansiedade, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, dificuldades de aprendizagem espec...
  A urgência de um relacionamento amoroso e as suas consequências Vivemos numa sociedade que valoriza e idealiza as relações amorosas, promovendo a ideia de que encontrar um(a) parceiro(a) é essencial para a realização pessoal e felicidade. Este contexto sociocultural pode gerar uma pressão intensa, levando muitos(as) a procurar relacionamentos de forma urgente e, por vezes, precipitada. Mas, será que se está verdadeiramente preparado(a) para estas relações? Ou será que a urgência de encontrar um(a) parceiro(a), muitas vezes, impede o estabelecimento de relações amorosas saudáveis e duradouras?          A influência da sociedade é poderosa, e pode moldar as expectativas e crenças sobre o que é necessário para sermos felizes. Desde a infância, somos expostos(as) a mensagens que engrandecem o amor romântico como o ápice da realização pessoal, através, por exemplo, de filmes, músicas e redes sociais, que levam à criação de uma imagem irrealista do amor e das r...