Avançar para o conteúdo principal

Como reconhecer e superar um relacionamento tóxico

Os relacionamentos amorosos desempenham um papel central na vida de muitas pessoas e, idealmente, deveriam ser uma fonte de felicidade, apoio e crescimento mútuo. Contudo, nem todas as relações cumprem este propósito e, por vezes, podem tornar-se tóxicas, prejudicando a autoestima, a saúde mental e o bem-estar emocional. Um relacionamento tóxico é caracterizado por comportamentos que comprometem o respeito, a confiança e a segurança emocional entre o casal, frequentemente subtis no início, mas que tendem a intensificar-se com o tempo, criando um ambiente emocionalmente desgastante. 

Entre os comportamentos mais comuns que podem surgir, estão:

 - Manipulação emocional por parte de um dos elementos, incitando a sentimentos de culpa, medo ou vergonha como forma de controlo do outro;

Falta de respeito, manifestada através de comentários depreciativos ou humilhações, que costumam ser recorrentes e em qualquer contexto;

Ciúmes excessivos e controlo das atividades do parceiro/a; 

Isolamento, afastando o/a parceiro/a de amigos, familiares ou hobbies

Ciclos de abuso, onde momentos de carinho alternam com comportamentos abusivos, que levam a confusão e exaustão emocional.

Os relacionamentos tóxicos podem surgir em qualquer fase da vida, afetando adolescentes nos seus primeiros relacionamentos ou mesmo casamentos de décadas, independentemente de idade, género ou contexto social. Identificar um relacionamento tóxico nem sempre é fácil, especialmente porque os sinais podem ser difíceis de reconhecer numa fase inicial. Além disso, muitas pessoas sentem medo ou têm esperança de que as coisas mudem e permanecem na relação. Contudo, alguns sinais podem indicar que algo não está bem, como:

- Sentir ansiedade ou tristeza constantes na presença do parceiro/a;

Perda de identidade ao abandonar atividades ou opiniões para evitar conflitos;

Temer ser honesto/a devido às possíveis reações do outro;

Falta de reciprocidade ou equilíbrio na relação;

Discussões frequentes sem uma comunicação saudável;

- Desenvolver sintomas físicos de stress, como insónias, dores de cabeça ou cansaço extremo. Em alguns casos, poderá desencadear síndromes psicológicas ou doenças mentais que afetam todos os domínios da vida da pessoa.

Reconhecer que um relacionamento é tóxico é o primeiro passo e o mais importante, embora também possa ser o mais difícil. No entanto, admitir o problema é crucial para começar a agir. Além disso, procurar apoio de amigos e/ou familiares pode ajudar a ter outra perspetiva e a ganhar força para tomar decisões difíceis. No caso de não ter uma rede de suporte funcional, o melhor será mesmo procurar ajuda profissional.

A decisão nem sempre é imediata e quando se decide continuar na relação enquanto se avalia os próximos passos, é importante estabelecer limites claros sobre o que se tolera. Se esses limites não forem respeitados, isso pode ser um sinal de que a relação não tem futuro. Em algumas situações, a melhor solução para proteger a sua saúde emocional é terminar a relação. Embora esta seja uma decisão difícil, pode abrir caminho para o crescimento pessoal e para um futuro mais equilibrado.

Ao sair de uma relação tóxica é fundamental focar-se na recuperação emocional e reconstrução da autoestima. Participar em atividades que o/a fazem sentir-se bem, como por exemplo, exercício físico, meditação, hobbies ou passar tempo com pessoas que o/a apoiam, pode ajudar a restabelecer o seu equilíbrio. Considere também procurar ajuda profissional. O acompanhamento psicológico é uma ferramenta valiosa para compreender o impacto da relação tóxica, processar as emoções associadas e preparar-se para estabelecer relações mais saudáveis no futuro.

Existem linhas de apoio disponíveis que oferecem apoio e orientações , para quem precise de ajuda, como, por exemplo., Linha Nacional de Emergência Social (144), APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) (116006), Linha de Apoio à Vítima de Violência Doméstica (800202148) e SOS Voz Amiga (213544545).

Superar um relacionamento tóxico pode ser um desafio imenso, mas é importante lembrar-se que merece amor e respeito, começando por se valorizar a si próprio/a. Cuidar de si nunca será egoísmo; é uma necessidade e um gesto de amor para consigo.


Dra. Joana Dias

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O valor terapêutico do Silêncio: pausas intencionais como estratégia para a promoção da Saúde Mental

Num mundo repleto de ruído – notificações constantes, excesso de informação nas redes sociais e a pressão para estar sempre ocupado(a) ou a alcançar objetivos – o silêncio pode parecer um luxo raro. Contudo, pausas intencionais de silêncio são uma ferramenta poderosa para cuidar da sua saúde mental. Neste artigo, exploro o que torna o silêncio tão transformador e partilhamos formas práticas de o incorporar no seu dia a dia. O silêncio, como ausência de ruído, proporciona vários benefícios ao nível do funcionamento psicológico e cognitivo: 1. Equilíbrio emocional e redução do stress : O silêncio diminui a sobrecarga sensorial e os níveis de cortisol, promovendo um estado de calma e ajudando a regular as emoções. 2. Melhoria da memória, atenção e criatividade : Sem distrações auditivas, o silêncio permite maior foco, estimula a consolidação da memória e aprendizagens, e favorece pensamentos criativos e soluções inovadoras. 3. Regeneração cerebral : O silêncio pode promover a neu...

Saúde Mental na Comunidade Médica: Desafios e Estratégias de Regulação Emocional

  Estando na linha da frente dos cuidados de saúde de toda a população portuguesa, os médicos enfrentam uma combinação única de desafios que impactam negativamente a sua saúde mental, afetando tanto especialistas como internos em formação.  Carga de Trabalho Elevada : turnos prolongados e alta carga emocional, nomeadamente em áreas de cuidados intensivos e emergências, com uma consequente privação de sono e supressão das necessidades fisiológicas (comer, dormir, idas ao WC); Exposição a Trauma e Sofrimento : cuidado diário de utentes em situações de sofrimento agudo, trauma e morte, podendo levar à exaustão emocional e ao desenvolvimento de sintomas de stress pós-traumático; Pressão Organizacional e Administrativa : expectativas de alta produtividade, burocracia administrativa e falta de recursos, podendo gerar maior frustração e desgaste dos profissionais; Isolamento Profissional : pela natureza competitiva e individualista da carreira médica, pode levar a sentimentos de soli...

O paradoxo da insatisfação: Por que é que mesmo tendo tudo, sentimos que nos falta algo?

                 Já sentiste que, mesmo tendo uma vida estável e sem grandes problemas, continuas a sentir que algo falta para te sentires completo(a) e teres bem-estar? Tens saúde, um emprego seguro, boas relações e momentos de lazer, mas, ainda assim, surge uma insatisfação que não desaparece. Este sentimento é mais comum do que pensamos e pode ter diferentes explicações. A insatisfação nem sempre é negativa. Em muitos casos, pode ser uma força que nos impulsiona a crescer, a explorar novas oportunidades, a definir novos objetivos e a procurar mais significado para a nossa vida, sem desvalorizar tudo o que já foi conquistado. No entanto, nem toda a insatisfação tem esta função positiva. Quando se torna constante, intensa e irracional, pode impedir-nos de sentir satisfação com o que temos, criando um ciclo de frustração, autocrítica e mal-estar geral. Um dos fatores que contribui para esta insatisfação é a comparação social, especialmente no...