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O meu filho está a ser vítima de bullying - e agora?


 Se é pai/mãe ou cuidador de uma criança ou adolescente e tem a suspeita que este corre o risco ou está a ser vítima de bullying, este artigo pode ser uma base de suporte e orientação para o que fazer: nele vai encontrar informações pertinentes para perceber o que é o bullying, que formas pode assumir, a que sinais deve estar atento e o que deve fazer em caso de suspeita ou confirmação. 

O bullying é um comportamento agressivo e violento, levado a cabo por um ou mais indivíduos com a intenção de prejudicar, magoar ou controlar alguém. Distingue-se também pelo seu caráter repetitivo, podendo assumir várias formas: verbal (e.g., alcunhas pejorativas, ameaças, boatos); físico (e.g., empurrar, bater, cuspir, toques inapropriados); psicológico (e.g., exclusão social, humilhação pública); material (e.g., apropriação ou destruição de materiais e objetos da vítima) e cyberbullying (efetuado através das plataformas digitais – e.g., partilha de fotos ou vídeos sem o consentimento da vítima, mensagens ofensivas). Embora sejam distintas, é comum que estas formas ocorram concomitantemente. O contexto em que ocorre o bullying pode, de igual forma, ser múltiplo (por exemplo se tivermos a ocorrência no contexto escola e ambiente digital).

Um estudo de Carvalho, Branquinho e Gaspar de Matos (2020) indica que cerca de 50% dos jovens relatam envolvimento em comportamentos de bullying pelo menos uma vez por mês – como vítimas, como agressores, ou ambos. Mais de 60% das vítimas não denuncia estes abusos e sofre em silêncio e as que denunciam, fazem-no, em média, 13 meses depois do último episódio. Poderá aceder a estas e outras informações pertinentes no seguinte documento, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, disponibilizado em: 

https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/opp_vamosfalarsobrebullying_documento.pdf.

Enquanto pai/mãe ou cuidador de uma criança ou adolescente, existem alguns sinais de alerta a que deve estar atento, bem como algumas estratégias que pode colocar em prática para ajudar na promoção de um ambiente seguro.

Os sinais de alerta irão depender do contexto no qual a criança/adolescente se encontra, bem como da comparação que pode ser feita com o que é o seu comportamento habitual. No entanto, esteja atento a alterações de humor, medo ou ansiedade persistentes, comportamentos regressivos (e.g., voltar a urinar na cama), alterações no apetite ou nos padrões de sono, pesadelos recorrentes, marcas físicas (e.g., hematomas, escoriações), quebra de rendimento escolar e dificuldade em focalizar a atenção.


Enquanto adulto responsável, ao agir perante este cenário, é importante que procure manter a calma e que seja assertivo na forma como lida com a situação:

Não normalize a violência. Frases como “É só uma brincadeira de crianças.”; “O teu colega não fez por mal.” ou “Se nos metemos sempre eles não crescem.”, legitimam atos de violência que não devem ter lugar num ambiente saudável, quer em casa quer na escola e contribuem para a sensação de impotência e de isolamento das vítimas;

- Mantenha uma comunicação aberta e fluida com os seus filhos – é importante as crianças e adolescentes sentirem que existe um canal de abertura e não julgamento a que podem recorrer – não só é facilitador da denúncia, como é importante para que consiga acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento;

- Tenha uma participação ativa na vida escolar dos seus filhos (incluindo uma comunicação direta com a escola);

- Mantenha uma postura de proatividade na monitorização do comportamento dos seus filhos – o primeiro passo para notar uma alteração de comportamento, é conhecer o comportamento habitual;

- Monitorize os conteúdos que os seus filhos consomem (internet, redes sociais, séries, filmes, entre outros). Tenha em mente que, ainda que possa limitar ou restringir os conteúdos que consomem, deixa de ter controlo a partir do momento em que são permitidos telemóveis na escola e alguma criança/adolescente pode não ter as mesmas restrições. É importante abordar os assuntos de forma apropriada a cada idade, ao invés de fingir que não existem, como forma de manter os seus filhos informados e criar neles a noção de saber como agir em caso de alerta;

- Incentive o apoio entre pares, instruindo o seu(sua) filho(a) para saber onde e a quem se dirigir para pedir ajuda – quer experiencie, quer assista a uma situação de bullying;

- Identifique características como: ser mais calado(a), tímido(a), ter uma baixa autoestima, comunicação pouco assertiva ou dificuldades de socialização entre pares. Muito embora estas características não tenham um cariz patológico, é importante perceber de que forma podem ser trabalhadas, porque constituem, neste contexto, sinais de risco. Em caso afirmativo, é importante o encaminhamento para um psicólogo, para que sejam devidamente trabalhadas;

- Denuncie – a denúncia não é opcional – enquanto cuidador, não poderá descartar-se do papel ativo que é proteger as crianças e adolescentes ao seu cuidado. Para além da direção da escola (no caso de ser neste contexto), existem também outros meios aos quais pode recorrer, sendo exemplos as associações de apoio à vítima (e.g., APAV), linhas de apoio telefónico à vítima de bullying (e.g., Linha SOS Bullying), autoridades competentes (e.g., Polícia de Segurança Pública), hospitais e centros de saúde (aos quais se deve dirigir em caso de agressão física) e o encaminhamento para consulta de Psicologia Clínica. 


Lembre-se: não atuar é ter uma atitude complacente, que não pode ter lugar numa sociedade mais justa, equilibrada e num ambiente promotor de um bom desenvolvimento psicológico. E, se considerar que precisa de orientações mais claras de como gerir uma situação desta natureza com os seus filhos, procure ajuda profissional.

 

Referências Bibliográficas:

Carvalho, M., Branquinho, C. & Matos, M. (2020). Cyberbullying and Bullying: Impact on Psychological Symptoms and Well-Being. Child Indicators Research, 14(1), 435-452. http://doi.org/10.1007/s12187-020-09756-2

 

 

Dra. Sara Morgado

 

 


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