
Atualmente, o pensamento positivo é promovido como resposta universal para as dificuldades da vida. Seja nas redes sociais, em alguns livros de autoajuda ou em discursos motivacionais, aumentam as mensagens que afirmam que “tudo vai correr bem” ou que “basta querer para conseguir”.
No entanto, a experiência real da vida raramente é tão simples. Quem já passou por períodos difíceis sabe que há dias em que o otimismo forçado não é suficiente e que pode até ser prejudicial. É precisamente nestes momentos que o conceito de otimismo realista se mostra particularmente pertinente.
Ser otimista de forma realista significa cultivar a esperança sem ignorar a realidade. Não se trata de negar os factos ou minimizar o sofrimento, mas de adotar uma atitude consciente em que se reconhece as dificuldades sem perder de vista a possibilidade de superação.
A verdade é que a dor faz parte da condição humana. Em algum momento, todos nós nos confrontamos com perdas, frustrações, medos e incertezas. Fingir que estes sentimentos não existem não os elimina, pelo contrário, pode intensificá-los. Ignorar o sofrimento emocional pode também ter impacto físico, já que emoções reprimidas tendem a expressar-se através do corpo, influenciando o bem-estar de forma direta, Isto pode contribuir para que surjam sintomas como:
- Fadiga persistente;
- Desmotivação;
- Ansiedade;
- Sintomas físicos, como por exemplo, tensão muscular, problemas gastrointestinais ou alterações no sono.
O verdadeiro otimismo não consiste em apagar essas emoções, mas em reconhecê-las, validá-las e reestruturar o seu significado. Geada (2021) e Dinis (2002), apontam que as emoções positivas não anulam a dor, mas podem coexistir com ela, fortalecendo a capacidade de resiliência da pessoa.
Importa, também, distinguir o conceito de aceitação e o conceito de resignação. Resignar-se é abandonar a “luta”, enquanto que aceitar é reconhecer os limites da situação e, a partir daí, abrir espaço para uma ação mais consciente. A aceitação pode traduzir-se, por exemplo, na afirmação: “Sim, esta realidade é difícil, e não é a que eu desejava. Mas estou aqui, disponível para fazer o melhor possível com o que tenho.”
Desenvolver esta forma de olhar para a vida exige prática e intencionalidade. Implica conhecer as emoções e ter uma escuta atenta das próprias emoções, sem julgamentos. Além disso, existem outras coisas do dia a dia que, quando valorizadas, ajudam a manter o equilíbrio e a desenvolver um otimismo realista, tais como conversas significativas, gestos de afeto e momentos de silêncio.
Outro aspeto importante é o papel do apoio social. Ninguém deve sentir-se obrigado a “ser forte”sozinho. Poder partilhar o que se sente com alguém que escute de forma genuína, sem julgamentos nem soluções apressadas, pode ser transformador. É possível promover saúde mental e bem-estar mesmo em contextos de vulnerabilidade, integrando a dor em vez de a suprimir. Se sente que para si é difícil lidar com o sofrimento e integrá-lo num otimismo realista, procure ajuda de um profissional de psicologia.
Referências
Alves Dinis, A. F. P. (2021). A psicologia positiva na procura da felicidade: Promoção do flourishing na população portuguesa e proposta de intervenção com base na acceptance and commitment therapy [Dissertação de mestrado, Universidade Fernando Pessoa]. Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa. http://hdl.handle.net/10284/10522
Geada, R. M. A. (2013). Do sofrimento à felicidade: Da psicanálise à psicologia positiva [Dissertação de mestrado, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias]. Repositório Institucional da Universidade Lusófona. http://hdl.handle.net/10437/5007
Dra. Joana Dias
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