A depressão é uma perturbação de humor que pode afetar a todos,
incluindo crianças e adolescentes. Esta condição pode interferir com
desenvolvimento físico e psicológico, com o estabelecimento das relações
interpessoais, com o desempenho escolar, e se não for identificada
atempadamente pode acarretar sérias repercussões a longo prazo.
Quais são as causas da depressão nas crianças e nos adolescentes?
A depressão pode ser causada por vários fatores, tais como,
biológicos, psicológicos e sociais/ambientais. Os fatores mais comuns que
podem contribuir para o desenvolvimento de depressão nas crianças e nos
adolescentes são:
- Problemas familiares (ex., conflitos, divórcio);
- Baixo rendimento ou insucesso escolar;
- Situações de violência emocional, sexual e física;
- Bullying ou conflitos com os colegas;
- Histórico familiar de depressão ou outras condições mentais (ex., perturbação de ansiedade, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, dificuldades de aprendizagem específicas);
- Situações de mudanças (ex., de cidade ou de escola) e/ou de perdas (ex., de familiares ou de animais de estimação);
Sinais de depressão nas crianças e nos adolescentes
As crianças e os adolescentes, assim como os adultos, podem experienciar
sentimentos de tristeza, irritação ou de frustração perante situações de
elevado stress (ex., adaptação à uma nova escola, divórcio dos pais, conflitos
com os colegas). Contudo, existem um conjunto de sintomas que, quando se
encontram presentes praticamente durante todo o dia, pelo menos por duas
semanas, podem indicar a presença da depressão nestas faixas etárias,
nomeadamente:
- Mudanças de humor - podem manifestar-se através de humor depressivo ou tristeza. Porém, é muito comum as crianças e adolescentes mostrarem-se aborrecidas, irritadas e ou responderem com raiva a tudo, incluindo as pequenas situações que podem gerar frustração;
- Mudanças no comportamento - podem manifestar-se através da perda de interesse em realizarem atividades que dantes adoravam fazer e/ou de uma maior vontade para estarem sozinhos, evitando estar com os familiares ou com os amigos, irem à escola ou passando muito tempo no computador/telemóvel;
- Alterações no apetite - pode notar-se um aumento ou uma redução de apetite. Além de perderem peso, pode registar-se uma dificuldade em terem o peso adequado respetiva à faixa etária;
- Problemas de sono - podem apresentar dificuldades em adormecer, acordarem várias vezes durante a noite, despertarem muito cedo ou dormirem em excesso;
- Agitação ou perda de energia - por um lado podem mostrar-se inquietos (ex., mexer frequentemente as mãos, andar de um lado para outro) e, por outro, podem sentir-se sem energia, cansados com dificuldades em iniciar e/ou em terminar as tarefas;
- Baixo rendimento escolar - podem apresentar problemas de atenção, de concentração e de memória, resultando em dificuldades em iniciar e/ou terminar tarefas escolares;
- Sintomas físicos - podem queixar-se frequentemente de dores de estômago, de barriga, de cabeça ou de outros sintomas físicos, sem uma causa médica aparente;
- Sentimentos de culpa ou de inutilidade - podem sentir-se inadequados, inúteis ou que são um fracasso, que pode manifestar-se nos adolescentes através da crítica excessiva e/ou insatisfação com o desempenho, com a autoimagem ou de receio de situações novas. Além disso, também podem experienciar uma sensação de vazio ou uma incapacidade para sentirem emoções;
- Pensamentos recorrentes sobre a morte - podem experienciar pensamentos recorrentes sobre a morte e/ou suicídio. Nos adolescentes, isso pode manifestar-se em preocupações e/ou interesses por músicas ou literatura sobre temas mórbidos;
No entanto, é importante ter em atenção que a forma como os sintomas se manifestam, podem variar de criança/adolescente para criança/adolescente e em função da fase da infância em que se encontram, isto é, primeira, segunda ou terceira infância.
A importância da identificação precoce dos sintomas
A identificação precoce dos sintomas depressivos em crianças e adolescentes
é crucial. Apesar dos sintomas depressivos nessas faixas etárias serem
semelhantes aos dos adultos, reconhecê-los
pode ser difícil porque as crianças e os adolescentes podem apresentar
dificuldades em falar sobre o que estão a sentir e consequentemente em
reconhecer que estão a lidar com a depressão. Além disso, as mudanças
desenvolvimentais, bem como a formação da identidade que ocorre na adolescência
podem gerar a sensação de desespero e de falta de esperança, agravando os
sintomas depressivos. Ainda, os adolescentes podem recorrer a
comportamentos de risco, como o uso de substâncias psicoativas ou automutilação,
como forma de lidarem com os sintomas físicos e emocionais, ficando mais
vulneráveis ao desenvolvimento de outras perturbações (ex., problemas de dependência)
e ao risco de cometerem suicídio. Por isso, é essencial que pais, familiares,
professores e amigos estejam atentos aos sinais de depressão e de suicídio e, ao
suspeitarem destes sinais, é fundamental que procurem a ajuda de um
profissional ou que sinalizem a criança ou adolescente, garantindo que
as mesmas recebam o apoio de que precisam o mais cedo possível.
Dra. Jacqueline Ferreira
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