Colaboradores presentes de corpo e mente – estratégias de minimização do presenteísmo nas organizações
O Presenteísmo
caracteriza-se pelo comportamento dos colaboradores que, mesmo estando
fisicamente presentes no local de trabalho, estão mentalmente distantes, não se
envolvendo ativamente nas tarefas que têm em mãos. Este comportamento pode
manifestar-se de diversas formas, desde a desmotivação e apatia até à existência
passiva às demandas do trabalho.
Estando este fenómeno associado
tanto a questões de saúde física e emocional das equipas (conforme explorado no artigo anterior) como a características específicas da gestão de cada
organização, torna-se crucial que as organizações adotem estratégias eficazes
para identificar e minimizar os seus efeitos.
Indicadores de Intervenção:
Motivação e
Compromisso – o
trabalho, quando valorizado e significativo, pode ser uma fonte de prazer e
satisfação. Assim, trabalhar sobre a motivação dos colaboradores evidencia-se,
neste contexto, como um mecanismo de prevenção do presenteísmo. Quando os
colaboradores atribuem significado ao seu trabalho, tendem a envolver-se mais
nas suas tarefas e sentem menos necessidade de se desconectar mentalmente. Para
gestores, isso significa criar um ambiente que nutra tanto os fatores
extrínsecos (como recompensas e reconhecimento) quanto os fatores intrínsecos
(como a autonomia e a valorização das competências). Além disso, é importante
que a organização equilibre o envolvimento em tarefas relacionadas e não
relacionadas ao trabalho, permitindo pausas e recuperações controladas que não afetem
o desempenho a longo prazo.
Saúde Física e
Mental – pequenas
pausas no trabalho poderão ajudar o colaborador na sua autorregulação, contudo,
deve-se ter em conta o tipo de atividade realizada durante essas pausas.
Envolver-se em atividades de "não-trabalho", como forma de
recuperação, pode não trazer os efeitos desejados (a pessoa estaria a não
trabalhar para questões relacionadas com o trabalho por estar a trabalhar em
questões de foro pessoal, não cumprindo, dessa forma, o objetivo primordial da
pausa) e, consequentemente, perpetuar o comportamento presenteísta. Assim,
poderão ser promovidas práticas que realmente contribuam para o bem-estar
físico e mental dos colaboradores nas suas pausas, como atividades de
mindfulness, programas de bem-estar e exercícios que ajudem na reposição de energias
e no aumento de um estado afetivo positivo.
Relações
Interpessoais –
colaboradores que se sentem parte de um grupo e que têm um bom relacionamento
com os seus colegas tendem a apresentar uma maior segurança psicológica, isto é,
uma maior confiança de que o ambiente é seguro para expressar opiniões e
sentimentos sem medo de retaliação, essencial para que se sintam motivados e
comprometidos. Desta forma, promover a segurança psicológica dos colaboradores
irá impactar diretamente o seu bem-estar mental e reduzir a probabilidade de se
ausentarem mentalmente das tarefas.
Atribuição de
Funções e Desenvolvimento de Competências – a carga de trabalho e a clareza na atribuição de
funções têm influência direta sobre a motivação dos colaboradores. Um volume de
trabalho desajustado (seja ele excessivo ou insuficiente) poderá gerar frustração,
desmotivação e irritabilidade, tornando mais provável que desviem a sua atenção
para atividades não relacionadas com o trabalho. Assim, atuar de forma a
ajustar as funções às capacidades e características dos colaboradores,
oferecendo oportunidades para o desenvolvimento de competências e para o
enriquecimento cognitivo, poderá aumentar a satisfação com o trabalho e,
consequentemente, motivar para o desenvolvimento de novas competências,
traduzindo-se num maior comprometimento e produtividade.
Para lidar de forma
eficaz com o presenteísmo, é fundamental que as organizações reconheçam os
sinais e implementem, concomitantemente, medidas que promovam um ambiente de
trabalho saudável e produtivo, tais como:
- Programas de Bem-Estar: oferecer atividades que cuidem
da saúde física e mental, como práticas de meditação, yoga, e suporte
psicológico;
- Política de Flexibilidade: promover um equilíbrio entre
vida pessoal e profissional, permitindo horários flexíveis ou trabalho
remoto quando necessário;
- Competências de Liderança: capacitar gestores para a identificação
dos sinais de presenteísmo e atuar preventivamente, incentivando uma
cultura de apoio e cooperação;
- Desenvolvimento de Carreira: oferecer oportunidades de
crescimento e desenvolvimento para que os colaboradores vejam valor
acrescido nas suas funções e sintam que o seu trabalho é reconhecido e
recompensado.
O presenteísmo é um
desafio silencioso que pode comprometer o potencial das equipas e prejudicar a
produtividade das organizações. Tanto gestores quanto colaboradores deverão
assumir a responsabilidade de identificar os fatores que contribuem para esse
comportamento, procurando ativamente estratégias de autocuidado e de gestão que
promovam uma cultura organizacional mais saudável. Investir no bem-estar e no
desenvolvimento dos colaboradores não só melhora a saúde mental e física das
equipas, mas também fortalece a identidade e o desempenho da organização como
um todo.
Dr.ª Raquel Gonçalves
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