Avançar para o conteúdo principal

Perturbação de Ansiedade Social: saiba o que é e quando deve pedir ajuda

 


Muitos de nós experienciamos medo ou ansiedade em situações sociais, particularmente quando se trata de conhecer pessoas ou de falar em público. Estas emoções ajudam-nos a identificar potenciais sinais que podem colocar em risco o desenvolvimento e o estabelecimento de uma conexão social e a evitá-los. Portanto, experienciar medo e ansiedade em contextos sociais é natural e adaptativo. Contudo, a rejeição na sociedade atual não representa o mesmo nível de risco que representou para os nossos antepassados, isto é, enquanto para os nossos antepassados ser excluído do grupo, podia colocar em causa a sua sobrevivência, atualmente isso já não acontece. Assim sendo, a questão que se coloca é: quando é que a ansiedade experienciada em situações sociais passa a ser disfuncional ou problemática para a pessoa?

O que é a Perturbação de Ansiedade Social?

A Perturbação de Ansiedade Social é caracterizada por medo e ansiedade intensos e persistentes que a pessoa sente em situações sociais ou perante a antecipação destes eventos. Este medo intenso pode levar ao evitamento das situações sociais (ex., encontros, entrevistas de emprego, ida à escola, ao supermercado, ou até mesmo comer e beber em frente aos outros) e quando a pessoa tem que as enfrentar, experiencia um elevado distress que é causado por um medo excessivo de ser avaliada negativamente, humilhada ou rejeitada em situações sociais. Esta perturbação pode interferir com todos os aspetos da vida social, isto é, ser generalizada ou pode ser específica, isto é, a pessoa pode ter ansiedade social apenas em contextos de avaliações (ex., apresentação oral ou competição).

Fatores de risco

São vários os fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da perturbação de ansiedade social, nomeadamente, os fatores genéticos (ex., historial familiar de pessoas com perturbações de ansiedade), os fatores biológicos (ex., alterações hormonais), os fatores psicológicos (ex., temperamento) e os fatores ambientais ou sociais (ex., experiência stressante ou humilhante). Esta perturbação pode surgir na infância e, se não for tratada, a pessoa pode sofrer durante anos ou mesmo ao longo de toda a vida.

Sinais e sintomas

Quem sofre com esta perturbação, não sente ansiedade apenas no momento de uma interação social (ex., apresentação oral), por vezes, pode começar a experienciar ansiedade semanas ou meses antes de uma situação social. Apesar da pessoa ter a perceção de que o medo e a ansiedade que sente é desproporcional à situação, esta sente que não consegue controlar os sintomas que podem ser acompanhados pelas alterações fisiológicas (ex., respiração acelerada, náuseas/vómitos, tonturas), cognitivas (ex., pensamentos acelerados, dificuldades de atenção e concentração, ruminação, dificuldades em tomar decisão), emocionais (ex., sensação de insegurança, tristeza, irritabilidade, medo), comportamentais (ex., evitamento, procura de validação, agitação).

À semelhança de outras perturbações de ansiedade o tratamento desta condição geralmente envolve, alterações no estilo de vida, psicoterapia e medicação.

Quando é que deve pedir ajuda?

Numa sociedade onde ainda existe muito preconceito sobre a saúde mental, falar sobre isso, pode gerar desconforto tanto para quem fala, como para quem escuta. Porém, o preconceito sobre os problemas mentais não só silencia, como também limita o conhecimento que pode ter sobre as psicopatologias, e essa é uma das razões por que muitas pessoas ainda desconhecem quando é que devem pedir ajuda. Mas, se está a experienciar sintomas de ansiedade social e se estes sintomas estão a causar-lhe um elevado distress e a interferirem com a sua vida social, não sofra em silêncio, procure a ajuda de um profissional de psicologia.

Dra. Jacqueline Ferreira 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O valor terapêutico do Silêncio: pausas intencionais como estratégia para a promoção da Saúde Mental

Num mundo repleto de ruído – notificações constantes, excesso de informação nas redes sociais e a pressão para estar sempre ocupado(a) ou a alcançar objetivos – o silêncio pode parecer um luxo raro. Contudo, pausas intencionais de silêncio são uma ferramenta poderosa para cuidar da sua saúde mental. Neste artigo, exploro o que torna o silêncio tão transformador e partilhamos formas práticas de o incorporar no seu dia a dia. O silêncio, como ausência de ruído, proporciona vários benefícios ao nível do funcionamento psicológico e cognitivo: 1. Equilíbrio emocional e redução do stress : O silêncio diminui a sobrecarga sensorial e os níveis de cortisol, promovendo um estado de calma e ajudando a regular as emoções. 2. Melhoria da memória, atenção e criatividade : Sem distrações auditivas, o silêncio permite maior foco, estimula a consolidação da memória e aprendizagens, e favorece pensamentos criativos e soluções inovadoras. 3. Regeneração cerebral : O silêncio pode promover a neu...

Saúde Mental na Comunidade Médica: Desafios e Estratégias de Regulação Emocional

  Estando na linha da frente dos cuidados de saúde de toda a população portuguesa, os médicos enfrentam uma combinação única de desafios que impactam negativamente a sua saúde mental, afetando tanto especialistas como internos em formação.  Carga de Trabalho Elevada : turnos prolongados e alta carga emocional, nomeadamente em áreas de cuidados intensivos e emergências, com uma consequente privação de sono e supressão das necessidades fisiológicas (comer, dormir, idas ao WC); Exposição a Trauma e Sofrimento : cuidado diário de utentes em situações de sofrimento agudo, trauma e morte, podendo levar à exaustão emocional e ao desenvolvimento de sintomas de stress pós-traumático; Pressão Organizacional e Administrativa : expectativas de alta produtividade, burocracia administrativa e falta de recursos, podendo gerar maior frustração e desgaste dos profissionais; Isolamento Profissional : pela natureza competitiva e individualista da carreira médica, pode levar a sentimentos de soli...

O paradoxo da insatisfação: Por que é que mesmo tendo tudo, sentimos que nos falta algo?

                 Já sentiste que, mesmo tendo uma vida estável e sem grandes problemas, continuas a sentir que algo falta para te sentires completo(a) e teres bem-estar? Tens saúde, um emprego seguro, boas relações e momentos de lazer, mas, ainda assim, surge uma insatisfação que não desaparece. Este sentimento é mais comum do que pensamos e pode ter diferentes explicações. A insatisfação nem sempre é negativa. Em muitos casos, pode ser uma força que nos impulsiona a crescer, a explorar novas oportunidades, a definir novos objetivos e a procurar mais significado para a nossa vida, sem desvalorizar tudo o que já foi conquistado. No entanto, nem toda a insatisfação tem esta função positiva. Quando se torna constante, intensa e irracional, pode impedir-nos de sentir satisfação com o que temos, criando um ciclo de frustração, autocrítica e mal-estar geral. Um dos fatores que contribui para esta insatisfação é a comparação social, especialmente no...