Todos nós,
em algum momento da vida, podemos já ter tido períodos em que nos encontrámos
sozinhos. Talvez estivéssemos longe de pessoas com quem costumamos contar para
nos ajudarem; ou pode ser que, mesmo com pessoas por perto, sentíssemos que
estávamos por nossa conta; ou que, mesmo que precisássemos, não estaria lá
ninguém para nós; ou ainda que não seríamos a escolha de ninguém.
Estarmos
sozinhos é diferente de nos sentirmos sozinhos – a Solidão é,
assim, um estado emocional que pode surgir mesmo quando estamos rodeados de
pessoas, na medida em que, na sua essência, reside na falta de vínculos seguros
e no sentimento de não pertença. É frequentemente vista como uma experiência
negativa, sendo associada à sensação de se estar isolado, de não se ser compreendido
ou de se sentir desligado (ou emocionalmente distante) dos outros. Por
consequência, a solidão poderá potenciar o desenvolvimento de sintomatologia
depressiva e ansiedade
Sentir-se só
pode advir de diversos fatores:
Ø
Falta de
Relações Seguras e Significativas – Quando não
nos sentimos vistos ou valorizados nas nossas relações interpessoais. Por outro
lado, sentir dúvida ou insegurança em relação ao papel de alguém na nossa vida
pode aumentar a sensação de não pertença.
Ø
Isolamento
Social – A
distância física ou a falta de oportunidades de interação social podem acentuar
sentimentos de solidão. A falta de interação humana regular e significativa
pode impactar o bem-estar emocional.
Ø
Baixa Autoestima
e Hipercriticismo – Quando
temos uma imagem depreciativa de nós mesmos e mantemos um discurso interno
autocrítico. Isto contribui para o isolamento emocional, podendo fazer-nos
duvidar do nosso valor e, por vezes, evitarmos o contacto social por medo da
rejeição ou do julgamento.
Ø
Histórico de
Experiências Adversas na Infância – Experiências
precoces marcadas por negligência, rejeição ou ausência de vínculos seguros estão
associadas a um maior risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental,
incluindo sintomas de ansiedade e sentimentos de solidão
A Solitude,
ao contrário da solidão, remete-nos para a escolha consciente de se estar
sozinho (mas não necessariamente solitário). Acontece em momentos de conexão
connosco mesmos, onde encontramos conforto na nossa própria companhia
(comportamento muito apreciado por pessoas introvertidas).
A solitude,
desta forma, é um espaço onde podemos desenvolver:
Ø
Autoconhecimento – permite-nos explorar os nossos
pensamentos, sentimentos e valores pessoais, contribuindo para o
desenvolvimento de um sentido de identidade. Sem a interferência de julgamentos
externos, podemos conhecer-nos melhor, entendendo as nossas motivações, desejos
e preocupações mais profundas.
Ø
Autoestima – proporciona-nos um ambiente onde nos podemos
conectar com a nossa individualidade e com as nossas necessidades emocionais. É
um tempo para reconhecermos as próprias conquistas e valor pessoal,
independentemente das expectativas externas.
Ø
Autocompaixão – ao estarmos sozinhos, confrontamo-nos com a
nossa vulnerabilidade. Isso nos dá a oportunidade de praticar a autocompaixão,
sendo gentis e compassivos connosco mesmos, e promovendo um maior equilíbrio
emocional e bem-estar.
Compreender
a diferença entre solidão e solitude pode não apenas transformar a nossa
perceção desses momentos, mas também potenciar um desenvolvimento pessoal
significativo. Ao mudarmos o paradigma, podemos promover a capacidade de
estabelecer relações seguras e significativas, estabelecer limites saudáveis e promover
o nosso bem-estar emocional.
A psicoterapia
pode desempenhar um papel crucial na ressignificação deste sentimento, na
medida em que ajuda a entender a solitude como um recurso positivo no
autodesenvolvimento e processo de cura. Ao explorar os fatores preditores do
sentimento de solidão, podemos reconhecer padrões de pensamento e comportamento
que perpetuam esse mesmo sentimento, aprender a estar connosco mesmos de
maneira mais compassiva e desenvolvendo uma relação interna de aceitação e
cuidado que se reflete nas interações externas.
Referências
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