O
término das férias significa, para muitos, o início ou a retoma do trabalho. O contexto
laboral acarreta consigo desafios que frequentemente colocam à prova a
resiliência do leitor. Porém, apesar de muito stressante, muitas vezes os
impactos deste tipo de stress passam despercebidos, o que pode contribuir para
o desenvolvimento do stress crónico.
Por exemplo, já alguma vez, ficou com herpes ou obstipado/a durante e ou após concluir um grande projeto? E quanto ao humor? Talvez se tenha sentido constantemente irritado/a ao longo de todo o projeto.
Quando experiencia stress, o corpo liberta hormonas como adrenalina, noradrenalina e cortisol. Estas hormonas, por um lado, atuam no corpo aumentado, por exemplo, os níveis de açúcar no sangue, da frequência cardíaca e contraindo simultaneamente os vasos sanguíneos e os músculos de modo a preparar o corpo para lidar com o perigo. Por outro lado, elas interferem com a resposta de vários outros sistemas, nomeadamente do sistema imune e digestivo, suprimindo temporariamente as suas respostas porque, perante uma situação de perigo, fazer digestão dos alimentos ou combater agentes estranhos no organismo, não é uma tarefa prioritária. Portanto, a exposição deste tipo de resposta de forma contínua, acarreta consequências nefastas para a sua saúde como mencionado neste artigo.
Considerando
que o stress faz parte do nosso dia a dia, a questão que se coloca é a seguinte:
não sendo possível eliminar o stress, como pode evitar que o stress se
transforme num problema?
O
primeiro passo para prevenir que a resposta de stress se torne num
problema, consiste em identificar os stressores - os estímulos que desencadeiam
a resposta de stress. No contexto laboral situações como o excesso de trabalho,
a insatisfação com as condições de trabalho, a falta de segurança no local de
trabalho e as expectativas irrealistas, são exemplos de stressores que podem
contribuir para o desenvolvimento ou agravamento do stress crónico.
Uma
vez identificados os potenciais stressores, o segundo passo consiste em identificar
os efeitos da resposta de stress. Apesar dos efeitos da resposta de stress diferir
de pessoa para pessoa, de um modo geral, os sintomas mais comuns a curto prazo
podem manifestar-se em:
Sintomas
físicos
- Enxaqueca e ou dores
de cabeça frequentes;
- Tensão muscular e
dores, particularmente no pescoço, nos ombros e nas costas;
- Fadiga ou
dificuldades em adormecer;
- Alterações de apetite;
- Cansaço físico;
Sintomas emocionais
- Ansiedade de forma persistente;
- Fadiga/agitação;
- Exaustão emocional;
- Alterações de humor, incluindo períodos de irritabilidade ou de tristeza;
- Diminuição de autoconfiança e de autoestima;
- Sensação de perda de controlo e de desespero;
- Dificuldades em relaxar ou experienciar as emoções “positivas”;
Sintomas cognitivos
- Dificuldades de concentração, de planeamento e de tomada de decisões;
- Pensamentos acelerados;
- Ruminação e preocupação constantes;
- Aumento de pensamentos automáticos negativos;
Sintomas comportamentais
- Evitamento das situações que geram distress ou dos stressores;
- Procrastinação ou dificuldades em concluir tarefas;
- Aumento de comportamentos de risco, como consumo de bebidas alcoólicas ou de outras substâncias ilícitas;
Por
fim, o terceiro passo, consiste em identificar as estratégias que
pode usar para gerir o stress. De um modo geral, a gestão da resposta de stress
requer o uso combinado de várias estratégias, tais como:
1.
Estratégias
de autocuidado
Hábitos
de vida saudáveis – nos períodos de maior stress, é comum os cuidados com a
alimentação, o sono e as atividades físicas, serem relegados para o segundo
plano. Para evitar que isso aconteça, é importante que saiba reconhecer estes
momentos para que adote medidas que possam ajudá-lo/a a manter ou a reajustar
os seus hábitos nesses períodos. É igualmente importante reservar tempo para
realizar atividades que gosta fora do trabalho, como hobbies ou passar
tempo com os amigos e familiares.
2.
Exercícios
de relaxamento
Exercícios
de relaxamento como os exercícios de respiração diafragmática, de relaxamento
muscular, de visualização e meditação, aumentam a produção de
neurotransmissores como a serotonina. A serotonina, também conhecida como a
hormona da felicidade, desempenha várias funções no organismo, nomeadamente
ajuda na regulação do humor, do apetite, do sono, da motilidade intestinal,
entre outras.
3.
Estratégias
de organização e de gestão de tempo
As
estratégias de organização e de gestão de tempo, tais como, o uso de listas de
tarefas, de calendários e de técnicas como o Pomodoro, são excelentes
ferramentas para reduzir o stress no contexto laboral porque ajudam-no/a a
obter uma maior clareza e controlo sobre as suas tarefas, aumentando assim, a
sua produtividade. Para mais estratégias sobre como melhorar a sua
produtividade, pode consultar o livro Aumenta a Tua Produtividade.
4.
Desenvolvimento
profissional
O
desenvolvimento profissional, por exemplo, investir em formações, contribui
para a redução do stress no contexto laboral porque capacita-o/a para desempenhar
as suas funções de forma mais eficaz e promove um maior sentimento de
autocontrolo e de autoconfiança no local de trabalho. Ainda, o desenvolvimento
profissional gera oportunidades para o crescimento na carreira, o que ajuda a
reduzir o stress associado a estagnação na carreira.
De
um modo geral, apesar do stress no contexto laboral ser comum, não deve
desvalorizar ou normalizar as suas consequências. Considerando que a forma como
se experiencia o stress varia de pessoa para pessoa, a ajuda de um profissional
pode ser necessária para ajudá-lo/a a desenvolver um plano de intervenção ajustado
às suas necessidades e evitar que o stress evolua para o stress crónico.
Dra. Jacqueline Ferreira
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