
Neste trajeto evolutivo da vida, toda a existência inicia com o nascimento e culmina na morte. Assim sendo, é expectável que todo ser humano possa vivenciar os seus estádios de vida na íntegra – infância, adolescência, idade adulta e velhice – com respeito e igualdade. Lamentavelmente, até ao momento, esta não é a realidade. Continuamos a viver um quotidiano onde os preconceitos existem nos mais variados contextos – escolar, laboral, hospitalar, social, etc. – e das mais variadas formas, afetando a saúde física e mental, assim como o bem-estar e qualidade de vida da população em geral.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica vários preconceitos instalados na sociedade, com a finalidade de combatê-los e promover a igualdade. Um desses exemplos é o “idadismo”, que, em 2021, o reconheceu como o conjunto de "estereótipos, atitudes e comportamentos preconceituosos dirigidos a pessoas com base na idade". Considerando-o uma problemática séria, decidiu lançar o “Relatório Mundial sobre o Idadismo” onde fornece uma análise profunda sobre o mesmo, os seus efeitos e evidências eficazes para o seu combate.
Embora o Idadismo tenha sido reconhecido pela OMS mais recentemente, o seu conceito foi atribuído primeiramente, pelo Gerontologista Norte-Americano Robert N. Butler, em 1969, que o definiu como “toda atitude prejudicial relacionada ao envelhecimento, preconceito contra pessoas idosas e políticas e práticas discriminatórias com base na idade” (Blanco et al., 2023, p. 2). Com esta definição podemos evidenciar como o Idadismo era predominantemente direcionado à população mais envelhecida, realidade que se tem vindo a estender a outras faixas etárias, principalmente os mais jovens. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 40% dos jovens já sentiram discriminação no trabalho devido à sua idade (ONU, 2024).
Impacto do Idadismo na Diversidade Geracional
O Idadismo pode espoletar diversas consequências negativas na vida das pessoas, impactando significativamente a sua saúde física, mental e emocional, e condicionar a sua qualidade de vida. Quando a população idosa é lesada por esta problemática, pode ser considerada “velha demais” para tudo, resultando em:
• Sentimento de solidão, desconexão e inutilidade;
• Exclusão Social;
• Menos oportunidades de emprego;
• Menor acesso a tratamento médicos;
• Menor participação na vida social;
• Mais dificuldades económicas;
• Desenvolvimento de perturbações mentais, tais como a depressão ou a ansiedade (entre outras);
• Desenvolvimento de distorções cognitivas face às suas capacidades, participação em atividades e noção do próprio “eu”;
• Entre outras.
Todas as consequências impossibilitam o desenvolvimento de um envelhecimento ativo e saudável, resultando num aumento exponencial do declínio cognitivo ao excluir qualquer possibilidade de estimulação e preservação das competências adquiridas ao longo da vida.
Contrariamente, os jovens que são afetados pelo Idadismo tendem a ser considerados “novos demais” para tudo, traduzindo-se em:
• Baixa satisfação profissional ou dificuldade em encontrar emprego;
• Stress e risco de desenvolvimento de perturbações mentais tais como depressão, ansiedade, burnout (entre outras);
• Menos credibilidade e evolução profissional;
• Exclusão social;
• Desenvolvimento de distorções cognitivas face ao seu desempenho e autoconceito – interpretações disfuncionais sobre a sua capacidade em realizar tarefas e a sua própria perceção como indivíduo;
• Entre outras.
Estes desfechos podem afetar os jovens no desenvolvimento da sua autonomia e construção da sua identidade condicionando todos os estádios de vida à posteriori – A depreciação dos seus valores e capacidades, podem ter um efeito nocivo na sua autoestima e autoconfiança, como tal, é fundamental a existência de acompanhamento psicológico para que as possíveis dificuldades ou perturbações mentais não agravem ao longo dos estádios de vida, tornando-se mais complexas de intervir.
Como prevenir o Idadismo?
• Desconstrução de estereótipos – desenvolvimento de ações de sensibilização e psicoeducação nas escolas, locais de trabalho e comunidade, tendo como objetivo a mudança de perceção e atitudes face a esta problemática.
• Promover a integração dos idosos e jovens na sociedade – proporcionar as mesmas oportunidades a nível de recrutamento laboral e oferta formativa com o intuito de aumentar o seu sentimento de utilidade, autonomia e produtividade. Igual acesso a tratamentos médicos, necessidades e condições de saúde.
• Promoção de atividades sociais intergeracionais, onde pessoas de diferentes idades possam interagir e aprender umas com as outras. Neste sentido, a OMS desenvolveu um Guia de Práticas Intergeracionais, incentivando a conexão e interação entre jovens e idosos, com a finalidade de desenvolver uma sociedade mais inclusiva (OMS, 2023).
Portugal é um dos países mais envelhecidos a nível populacional, facto que torna a abordagem do Idadismo cada vez mais relevante e urgente face à sua prevenção e consciencialização. Não obstante, devemos estar atentos não só à população idosa, mas também aos mais jovens, sendo que os mesmos sofrem cada vez mais com o olhar da desigualdade devido à sua idade.
Se já sentiste o preconceito do Idadismo, não estas sozinho/a. Procura ajuda. Estamos aqui para te ajudar.
Referências Bibliográficas
• Organização Mundial da Saúde (2021). Relatório mundial sobre o idadismo: resumo executivo. Disponível em: https://www.who.int/
• Blanco, A. L., Batistoni, S. S. T., & Nunes, D. P. (2023). Expressões de idadismo durante a pandemia segundo a percepção de pessoas idosas. Geriatrics, Gerontology and Aging, 17, 01-08. https://doi.org/10.53886/gga.e0230032
• Organização das Nações Unidas (2024). Idadismo: Mais de 40% de jovens já sentiram discriminação no trabalho devido à idade. https://news.un.org/pt
• Organiação Mundial da Saúde (2023). Connecting generations: planning and implementing interventions for intergenerational contact. https://www.who.int/
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