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Psicoterapia: o desconforto que precede o alívio



Tomar a decisão de fazer Psicoterapia pode criar todo um alvoroço de sentimentos contraditórios: se por um lado subsiste a necessidade de procurar ajuda, por outro, manifestam-se receios face às incertezas. Ao escolher este caminho e mergulhar neste processo, poderá deparar-se com dúvidas, bloqueios e receios de partilhar a sua história com alguém que lhe é complemente desconhecido. Medo do julgamento, de não ser acolhido/a, de não existir uma solução para as dificuldades que vivencia – inúmeros são os pensamentos que podem surgir e sabotá-lo/a, podendo dificultar o processo de enfrentar e ultrapassar as suas adversidades.

Embora a visão da sociedade tenha vindo a evoluir favoravelmente sobre o que é a Psicoterapia, e quais os seus benefícios, persistem ainda algumas lacunas, que contribuem para o impasse em assumir o compromisso e embarcar neste processo. A falta de informação ou até a distorção da mesma podem não só dificultar o agendamento de uma primeira consulta, como também culminar no abandono da terapia por parte do cliente, antes de atingir os objetivos terapêuticos definidos, o que tecnicamente denominamos de Dropout.

É fundamental continuar a reforçar que a Psicoterapia é um meio de intervenção terapêutica que inclui várias abordagens ou formas de tratamento (ex., a Terapia Cognitivo-comportamental, a Terapia de Aceitação e Compromisso, a Psicanálise) que utilizam um conjunto de técnicas e procedimentos, baseados na evidência científica com o objetivo de promover a saúde mental, o bem-estar, desenvolvimento pessoal e a qualidade de vida.

Não é um processo linear, tem altos e baixos e pode abranger avanços e retrocessos, mas pode ajudá-lo/a:

 

l  Nas suas dificuldades – pessoais, profissionais, familiares e de relacionamentos;

l  No seu autoconhecimento;

l  Na sua autoestima – autoconceito, autoimagem, autorreforço e autoeficácia;

l  Nos acontecimentos significativos e desafiantes da vida – Perdas, lutos, doenças, entre outros;

l  Nos possíveis problemas de Saúde Mental que esteja a experienciar – Ansiedade, Depressão, Burnout, ou outros;

É expectável que na primeira sessão de Psicoterapia, cliente e Psicólogo/a se apresentem dando início à construção de uma Aliança Terapêutica, embora a mesma se venha a desenvolver ao longo de todo o processo terapêutico, não sendo imediata. Ainda na primeira sessão, o Psicólogo/a deverá expor a sua Abordagem Terapêutica ao cliente, para que este tenha o conhecimento dos pressupostos a serem trabalhados, assim como os mesmos serão adereçados no processo terapêutico. Da mesma maneira, o/a cliente deverá referir o motivo que o/a trouxe à consulta e manifestar os seus objetivos face à terapia. Estes podem nem sempre ser claros para o cliente, pelo que o psicólogo/a deverá orientar o trabalho de definição dos mesmos.

A partir da primeira consulta é realizada uma avaliação psicológica inicial, efetuada através de uma entrevista estruturada ou semiestruturada, com questões direcionadas para a examinação profunda de crenças, pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos. Conjuntamente são utilizados questionários psicométricos validados para a população portuguesa, que completam objetivamente a avaliação. Não existe um número de sessões pré-definidas para a realização desta avaliação, uma vez que poderá variar de cliente para cliente, dado que cada história de vida tem contornos diferentes, que devem ser acolhidos e compreendidos com empatia e escuta ativa.

Uma vez realizada a avaliação e definidos os objetivos terapêuticos, será delineado o Plano de Intervenção Psicológica. Ao longo do processo de intervenção terapêutica, é realizada uma monitorização contínua com o objetivo de avaliar o progresso do tratamento. Com base nessas avaliações, poderá ser considerada a alta clínica, ou se necessário, a reformulação da intervenção.

A Psicoterapia é um processo desafiante, mas cheio de novas oportunidades e de autoaprendizagem. É um processo que pode trazer à superfície desconforto ao explorar sentimentos, pensamentos e experiências de vida dolorosas, mas também pode ser alívio, quando deixa de fugir e as acolhe. O desconforto, nem sempre é um mau indício em Psicoterapia e a sua manifestação pode traduzir-se em progresso. Como tal, não desista da terapia quando este sentimento o/a invadir, fale abertamente com o seu Psicólogo/a, pois ele/a saberá guiá-lo. Não desista de si, nem da sua Saúde Mental. Estamos aqui para o/a ajudar.


Dra. Beatriz Santos

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