Todos os anos durante este mês assinala-se o Setembro Amarelo, uma campanha que visa promover a consciencialização e prevenção do suicídio. Com início no Brasil em 2015, esta jornada dedica-se à consciencialização sobre a saúde mental e a importância de se trazer a tema de conversa o sofrimento psicológico, como forma de aumentar a literacia acerca do tema, e contribuir assim para a diminuição do número de mortes por suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2021), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, e estima-se que para cada suicídio consumado existam mais de 20 tentativas.
O suicídio é um fenómeno complexo e multifatorial, resultante da interação entre fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais. A sua prevenção exige uma abordagem integrada, baseada em evidência científica e em práticas clínicas humanizadas. Sabemos também que existem alguns fatores considerados de risco associados ao comportamento suicidário, que incluem:
- Diagnóstico de perturbação mental (por exemplo depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia, perturbações de personalidade, entre outros);
- Histórico prévio de tentativa de suicídio;
- Consumo de álcool ou substâncias psicoativas;
- Situações de crise (perdas recentes, luto, desemprego, rutura de relações afetivas);
- Isolamento social e sentimento de solidão;
- Histórico familiar de suicídio;
- Experiências de abuso, negligência ou violência (por exemplo física, psicológica ou sexual);
- Trauma complexo;
- Acesso a meios letais, como medicamentos ou armas.
Da mesma forma, existem alguns fatores e estratégias de proteção, que são elementos que contribuem para reduzir o risco de suicídio, atuando quer ao nível da prevenção, quer ao nível da recuperação/reabilitação após tentativa. Alguns exemplos são:
- Rede de apoio social presente (familiares, amigos, comunidade);
- Acesso a cuidados de saúde mental qualificados, nomeadamente com intervenções psicoterapêuticas baseadas em evidência, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC);
- Trabalho de capacidade de resolução de problemas e gestão emocional;
- Restrição do acesso a meios letais.
Na Psicologia, temos um papel fundamental na avaliação do risco de suicídio, na escuta empática e na intervenção terapêutica. A investigação sugere que a psicoterapia reduz significativamente o risco de tentativa e de suicídio consumado (Calati et al., 2018), sendo um dos fatores protetores de maior relevância para o evitamento deste desfecho.
Importa também desmistificar um mito: falar sobre suicídio não incentiva o ato. Pelo contrário, pode abrir portas ao diálogo e à procura de ajuda. Muitas pessoas que pensam em morrer não querem, de facto, morrer — querem pôr um término à dor emocional que se encontram a vivenciar, seja qual for o motivo. Falar sobre o suicídio com responsabilidade, empatia e base científica é um ato de cuidado. Em Portugal, serviços como a SOS Voz Amiga (213 544 545), a linha da Cruz Vermelha Portuguesa (1415), a nova linha de Apoio à Prevenção do Suicídio (1411) ou a linha de Apoio Psicológico do SNS 24, prestam apoio emocional gratuito e anónimo numa situação de emergência. Da mesma forma, a psicologia clínicae os cuidados em saúde mental contínuos devem ser acessíveis e integrados em todas as fases da vida, sobretudo após a emergência, uma vez que é essencial criar um espaço seguro onde a pessoa se sinta acolhida, compreendida e acompanhada por um profissional capacitado.
Neste Setembro Amarelo, deixo um apelo: se sente que não consegue lidar com a sua dor, procure ajuda. E se conhece alguém em sofrimento, esteja presente, escute e oriente para o apoio profissional. A dor partilhada torna-se mais leve — e a vida pode, sim, voltar a fazer sentido.
Referências e Links Importantes:
- Organização Mundial da Saúde (2021). Suicide worldwide in 2019: Global health estimates. https://www.who.int
- Calati, R., et al. (2018). Psychotherapy for suicide prevention: A meta-analysis of randomized controlled trials. Journal of Affective Disorders, 236, 201–210.
- SOS Voz Amiga – www.sosvozamiga.org | Cruz Vermelha Portuguesa – Linha 1415
- Linha de Apoio à Prevenção do Suicídio – 1411
- SNS 24 Linha de Apoio Psicológico - https://www.sns24.gov.pt/pt/servico/aconselhamento-psicologico-no-sns-24/
Dra. Sara Morgado
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