Avançar para o conteúdo principal

A autoestima das nossas crianças – o que fazer para a promover?

A autoestima é complexa de definir e é um conceito que engloba o juízo de valor que fazemos relativamente a características que temos. Gostamos do que somos? Gostávamos de ser diferentes? Comparamo-nos com os outros e achamos que somos piores? Melhores? Que imagem gostamos de projetar para os outros? Como achamos que somos vistos? Como nos vemos a nós próprios?  

Talvez mais importante do que tentar arranjar uma definição consensual, seja discutir o porquê de a autoestima ser um tópico importante de reflexão. Pode não parecer, mas neste conceito residem uma diversidade de constructos importantes para o nosso bem-estar, saúde e desenvolvimento. E claro, melhor do que trabalharmos nisto em adultos, é tentarmos incutir nas nossas crianças estas noções básicas de amor-próprio para que elas possam crescer num ambiente equilibrado, tornando-se adultos plenos e capacitados.  Uma boa autoestima permite às nossas crianças expressarem-se de forma saudável, aprenderem a cuidar de si, tomarem decisões, desenvolverem capacidades de interação social, de comunicação, autonomia, confiança, resiliência, e conforto na sua própria pele (entre muitas outras coisas). 

Talvez se esteja a interrogar acerca do que pode fazer para trabalhar com as suas crianças esta vertente da saúde mental. Por esse motivo, fica o convite para colocar em prática as dicas que se seguem com os seus mais pequenos: 

1. Valorize - Quando arrumam os brinquedos, quando se portam bem, ou quando obedecem aos pais, por exemplo. Ao valorizar o seu comportamento (e.g., “Estou muito contente contigo, vi que arrumaste os brinquedos todos!”) está a transmitir que repara quando a criança faz coisas boas (e não apenas quando faz coisas más) e que ela é capaz de cumprir com as tarefas que são esperadas dela, o que aumenta a sensação de cumprimento, de capacidade e de satisfação. 

2. Deixe que tomem (algumas) decisões - Não é deixar a criança mandar – mas algumas pequenas decisões do dia-a-dia (por exemplo, que camisola prefere levar para a escola) ajudam a desenvolver a noção de autoestima nas crianças. Porquê? Porque ajuda a que se sintam confortáveis e confiantes na sua capacidade de tomar decisões (e a serem efetivamente capazes de o fazer), o que se revela extremamente útil para capacitar as crianças a tomarem decisões importantes no futuro.

3. Incentive a descoberta de coisas novas ou o gosto por alguma atividade.
Quando incentiva uma criança a perseguir um sonho ou um gosto por uma atividade, está a transmitir-lhe que tem interesse no seu bem-estar e que isso é importante para a felicidade dela. 

4. Dê tempo de qualidade às suas crianças – Ouça os seus medos, as emoções, o dia-a-dia delas. É importante que a criança cresça com a mensagem de que o que sente é importante. Permitir que ela partilhe, por exemplo, como correu a escola, transmite-lhe a sensação de conforto em falar do que sente e do que se passa à sua volta. Mas atenção: este tempo NÃO inclui estar no telemóvel ou tablet enquanto fala com elas. As crianças aprendem essencialmente por modelagem – isto significa que estão a absorver tudo o que as rodeia, incluindo as suas pistas não verbais (por exemplo, a falta de contacto visual). Tente fazer este pequeno exercício: Quando alguém fala consigo mas não olha para si, o que sente? Provavelmente que não estarão verdadeiramente interessados naquilo que tem a dizer. Não é isso que queremos que as nossas crianças percebam quando falam connosco, sobretudo acerca do que sentem!

5. Evite comparações desnecessárias com os colegas da escola ou outras crianças da família (e.g., irmãos, primos) ou com outros adultos (e.g., “com a tua idade eu já fazia (...), porque é que não és capaz?”).

6. Não denomine a criança pelos erros que ela comete (e.g., “a mentirosa”; “o preguiçoso”).

E por último, mas não menos importante: 

7. Não confunda autoestima nem confiança com arrogância – uma coisa é capacitar a criança para acreditar no seu potencial e dotá-la de estratégias e crenças que a ajudem no seu dia-a-dia; outra coisa completamente diferente é fazer a criança acreditar (ou pior ainda, exigir) que será sempre excelente em tudo e melhor que todos os outros – não será verdade, porque ninguém é perfeito nem excelente em tudo e isso só vai ajudar a gerar confusão, frustração e descrença nas próprias capacidades, o que por sua vez poderá contribuir para o desenvolvimento de uma baixa autoestima! 


Dra. Sara  Morgado


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sinais de depressão em crianças e adolescentes: a importância da identificação precoce

  A depressão é uma perturbação de humor que pode afetar a todos, incluindo crianças e adolescentes.  Esta condição pode interferir com desenvolvimento físico e psicológico, com o estabelecimento das relações interpessoais, com o desempenho escolar, e se não for identificada atempadamente pode acarretar sérias repercussões a longo prazo. Quais são as causas da depressão nas crianças e nos adolescentes? A depressão pode ser causada por vários fatores , tais como, biológicos, psicológicos e sociais/ambientais. Os fatores mais comuns que podem contribuir para o desenvolvimento de depressão nas crianças e nos adolescentes são: Problemas familiares (ex., conflitos, divórcio); Baixo rendimento ou insucesso escolar; Situações de violência emocional, sexual e física; Bullying ou conflitos com os colegas; Histórico familiar de depressão ou outras condições mentais (ex., perturbação de ansiedade, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, dificuldades de aprendizagem espec...
  A urgência de um relacionamento amoroso e as suas consequências Vivemos numa sociedade que valoriza e idealiza as relações amorosas, promovendo a ideia de que encontrar um(a) parceiro(a) é essencial para a realização pessoal e felicidade. Este contexto sociocultural pode gerar uma pressão intensa, levando muitos(as) a procurar relacionamentos de forma urgente e, por vezes, precipitada. Mas, será que se está verdadeiramente preparado(a) para estas relações? Ou será que a urgência de encontrar um(a) parceiro(a), muitas vezes, impede o estabelecimento de relações amorosas saudáveis e duradouras?          A influência da sociedade é poderosa, e pode moldar as expectativas e crenças sobre o que é necessário para sermos felizes. Desde a infância, somos expostos(as) a mensagens que engrandecem o amor romântico como o ápice da realização pessoal, através, por exemplo, de filmes, músicas e redes sociais, que levam à criação de uma imagem irrealista do amor e das r...

Do Pensamento à Ação: Como os pensamentos influenciam os nossos sentimentos e as nossas decisões

  Já alguma vez se perguntou por que se sente de determinada forma ou por que agiu de certa maneira? Os pensamentos são a base da nossa experiência interna e têm impacto direto nas nossas ações e comportamentos. A forma como pensamos influencia a maneira como percebemos, sentimos e interagimos com o mundo. Os pensamentos são processos mentais que podem ser conscientes ou inconscientes, surgindo de forma espontânea ou em resposta a um estímulo. Estes envolvem, por exemplo, o processamento de informações, imagens e memórias e desempenham um papel crucial na forma como nos sentimos, na nossa tomada de decisão e na resolução de problemas. Os pensamentos podem ser classificados de várias formas, consoante o impacto que têm nas emoções e nos comportamentos, a saber:  - Pen samentos automáticos:  Surgem de forma rápida, espontânea e sem esforço consciente. Muitas vezes, baseiam-se em crenças (ideias ou convicções aceites como verdadeiras, independentemente se há ou não evidência...